Na Focus (dia 16) o mercado mostrou seu pessimismo com piora em suas projeções para PIB, câmbio, e revisão para baixo para Selic e IPCA neste ano. A alta do PIB de 2020 passou de 1,99% para 1,68%. A Selic no fim de 2020 passou de 4,25% para 3,75% ao ano. O IPCA para 2020 caiu de 3,20% para 3,10%. O câmbio para fim de 2020 subiu de R$ 4,20 para R$ 4,35.
O clima de pânico tomou conta dos mercados na pior semana em muitos anos para os principais ativos. A oficialização por parte da OMS de que o surto de coronavírus é uma pandemia foi agravada pela derrota que o governo sofreu no Congresso, após os parlamentares derrubarem um veto do presidente que custará R$ 200 bilhões aos cofres públicos em 10 anos. O casamento de projeções de crescimento cada vez menores para o País com a piora fiscal não poderia ter sido mais devastador.
A perspectiva de ampliação das ações dos bancos centrais e governos ao redor do mundo para tentar minimizar os impactos econômicos do coronavírus contribuíram para que os vencimentos curtos devolvessem até 70 pontos, mas ainda tem acumulados cerca de 40 pts e os médios e longos cedessem ao redor de 100 pts mas acumularam avanço entre 80 e 130 pts na semana.
A melhora do humor nos mercados internacionais além da atuação coordenada do Banco Central e Tesouro com leilões cambiais e de títulos prevaleceram sobre as preocupações fiscais e a alta do dólar. A curva de juros voltou a precificar chances de afrouxamento monetário de 25 bps na reunião do Copom em março.
O dólar à vista renovou máxima nominal histórica de fechamento a R$ 4,81. Na semana, por conta da tensão causada mundialmente pela pandemia do coronavírus subiu 3,9%, mesmo com intervenções de US$ 10,2 bilhões do Banco Central via leilões à vista, de linha e de swap. No ano acumula alta de 20%, o segundo pior desempenho em uma cesta de 34 moedas. Desde que a disseminação do coronavírus se intensificou no final de fevereiro, o Bacen já injetou quase US$ 18 bilhões no mercado de câmbio por meio de diversos instrumentos.
Além de injetar liquidez, o BC deu recados em relação à política cambial e monetária ressaltando via apresentação do diretor de Política Monetária que “o atual estágio recomenda cautela”, mas que “temos vantagem em relação a outros BCs de poder usar política monetária”.
A alta da produção industrial (+0,9%) de janeiro ante dezembro acima da mediana das estimativas (+0,8%) não chegou a fazer preço, mesmo mostrando na abertura uma melhora na produção de bens de capital. O dado foi relegado diante da percepção de que não representa tendência efetiva de recuperação e não capta efeitos do coronavírus.
O IPCA de fevereiro subiu 0,25%, no teto das estimativas, mas ainda assim o mais baixo resultado para o mês desde o ano 2000. Em 12 meses a taxa desacelerou de 4,19% em janeiro para 4,01% em fevereiro, praticamente no centro da meta de 4% perseguida pelo Banco Central este ano e não afetou a percepção de que o cenário para inflação continua favorável.
As declarações do presidente americano sobre a emergência nacional em meio ao avanço do coronavírus no país fortaleceram o dólar mundialmente.
O petróleo que havia despencado no início da semana com a “guerra de preços” entre Arábia Saudita e a Rússia fechou com perdas na semana superiores a 20%.
Semana de 16 e 20 de março
Os mercados seguirão à mercê do noticiário em torno da pandemia do coronavírus e seus impactos econômicos, com aumento rápido de medidas de restrição e mobilidade pelas autoridades para tentar controlar o contágio pelo mundo.
Na agenda de eventos e indicadores, o destaque é a superquarta da política monetária no dia 18, com decisões sobre juros no Brasil e nos EUA.
No Brasil, a piora do cenário fiscal e a disparada da taxa de câmbio chegaram a esfriar na curva de juros nos últimos dias as apostas de corte da Selic, hoje em 4,25%, mas a aposta majoritária é de que o Bacen vai cortar a taxa, se alinhando assim ao que vem sendo feito por outras autoridades monetárias. A decisão é vista como uma das mais difíceis dos últimos anos.
Na quinta será a vez de o Banco do Japão anunciar sua decisão de política monetária.
Fonte: Broadcast