Na pesquisa Focus (dia 23), as projeções para o crescimento da economia ainda parecem mais otimistas do que as últimas revisões para baixo de bancos e do próprio Ministério da Economia, que reviu sua projeção do PIB de 2020 de 2,1% para 0,02%. A expectativa de crescimento da economia brasileira em 2020 caiu de alta de 1,68% para 1,48%. Para 2021, manteve a previsão de alta do PIB de 2,50%. A mediana para o IPCA neste ano foi de alta de 3,10% para 3,04%. A projeção para o índice em 2021 passou de 3,65% para 3,60%. Entre as Top 5, a mediana das projeções para 2020 passou de 3,01% para 2,96%. As projeções para a Selic no fim de 2020 ficaram em 3,75%. A projeção para o fim de 2021 foi mantida em 5,25%. Após as sucessivas altas da cotação do dólar nos últimos dias, a mediana das expectativas para o câmbio no fim do ano passou de R$ 4,35 para R$ 4,50. Já para 2021, a projeção subiu de R$ 4,20 para R$ 4,29.
Nesta semana, 38 bancos centrais de todo o mundo cortaram juros numa tentativa de amenizar os impactos da pandemia do coronavírus sobre a demanda e a oferta globais. Com estas ações recentes, o total de medidas na área de política monetária subiu para 62 apenas em março, algo nunca visto na história econômica mundial. Além de diminuir taxas, as autoridades monetárias também iniciaram uma injeção de trilhões de dólares na atividade global. Porém, o BC chinês (PBoC) decidiu manter inalteradas suas taxas de juros de curto e longo prazo, deixando uma interpretação positiva de que as coisas por lá não estão tão ruins, uma vez que o pior da crise de coronavírus na China aparentemente já passou.
O corte da Selic para 3,75% estava bem precificado na curva, mas o tom do comunicado, com os diretores indicando que neste momento veem como adequada a manutenção da Selic em seu novo patamar foi considerado “mais hawkish do que o esperado”. Apesar disso, parte do mercado manteve a projeção de corte na taxa Selic em maio devido à expectativa de arrefecimento da atividade. A postura mais conservadora do Banco Central é atribuída tanto ao overshooting do câmbio quanto às preocupações com o quadro fiscal, uma vez que o comunicado destaca que “alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas” podem elevar a taxa de juros estrutural, assim como questionamentos sobre as reformas.
O mercado de juros tentou processar o grande fluxo de informações relacionadas à guerra do coronavírus, tais como a perspectiva de fiscal deteriorado, e acentuou a inclinação da curva de juro a termo. O Tesouro continuou atuando para dar saída a vendedores e compradores de títulos com leilões de NTN-F, LTN e NTN-B e contribuindo para tentar manter a curva sob certo controle.
No mercado de câmbio a divisa americana acumulou forte alta de 4,37% na semana, enquanto no mês sobe 12% e no ano avança 25%. A combinação de políticas de vários governos e as ações extraordinárias de bancos centrais pelo mundo ajudaram o dólar a fechar a semana a R$ 5,0267, depois de ter atingido máxima em torno de R$ 5,25 em meio ao noticiário negativo sobre os avanços da pandemia de coronavírus no Brasil e no exterior. Além de uma linha de swap com o Federal Reserve, o BC mostrou todo seu esforço ao usar várias ferramentas para enfrentar os problemas de liquidez do mercado: swaps, dólar à vista, leilão de linha e operação compromissada em dólares em estratégia semelhante ao que já tinha tentado durante a crise financeira mundial de 2008.
O risco Brasil medido pelo Credit Default Swap (CDS) de cinco anos chegou a superar 400 pontos na semana, em nível só visto antes do impeachment de Dilma Rousseff.
Semana de 23 a 27 de março
O mercado seguirá atento ao impacto econômico pelos esquemas de quarentena impostos pelos governos na maioria dos países do globo para tentar conter a proliferação do novo coronavírus.
Inúmeras entidades estão prevendo retração da economia mundial neste ano. Para o Brasil, o Ministério da Economia anunciou que espera uma expansão do PIB de 0,02%, ante 2,1% projetados antes.
Serão divulgados a ata do Copom, o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) e ainda o IPCA-15 de março. Também serão conhecidos os dados do varejo brasileiro em janeiro, que vão chegar atrasados diante do cenário atual.
A bateria de dados econômicos referentes a fevereiro refletem pouco da crise do coronavírus e não devem ajudar na formulação dos cenários.
Já na Alemanha e na Zona do Euro, saem as prévias de março para os PMIs.
Fonte: Broadcast