Os efeitos da pandemia do novo coronavírus sobre a economia brasileira fizeram os economistas do mercado financeiro cortarem novamente suas projeções para o PIB em 2020. Conforme o Relatório de Mercado Focus, a expectativa para a economia este ano passou de retração de 1,18% para queda de 1,96% e para 2021, o mercado alterou a previsão de elevação de 2,50% para 2,70%. A mediana para o IPCA neste ano foi de alta de 2,72% para 2,52% e para 2021 seguiu em 3,50%. A mediana das previsões para a Selic neste ano seguiu em 3,25% e no fim de 2021 foi de 4,75% para 4,50% ao ano. As expectativas para o câmbio no fim do ano foram de R$ 4,50 para R$ 4,60 e para 2021, a projeção para o câmbio foi de R$ 4,40 para R$ 4,47.
Nos juros futuros, a forte desaceleração do IPCA em março (0,07%), já sob efeito da quarentena pelo covid-19, abaixo da mediana das estimativas (0,12%) fez com que as apostas no corte de 0,50 ponto da Selic no Copom de maio avançassem pela manhã, chegando a ser claramente majoritárias, mas à tarde, com o dólar se afastando dos R$ 5,05 e mais perto dos R$ 5,10, arrefeceram, com o mercado novamente mais dividido sobre o tamanho do corte. A taxa do contrato de DI para janeiro de 2022 caiu para 3,87%, se firmando pela primeira vez abaixo dos 4%. Na semana, considerando os níveis de fechamento do dia 3, as curtas ficaram de lado, as do miolo cederam em torno de 15 pontos e as longas recuaram 50 pontos.
Declarações de Roberto Campos Neto, presidente do BC, lidas como sinais de que a autoridade monetária deve optar por alívio mais brando na Selic também ajudaram a curva a perder inclinação. Também houve alívio com a permanência do ministro da Saúde no cargo.
O IPCA de 0,07% é o menor para meses de março desde 1994, quando foi criado o Plano Real. Em 12 meses o resultado foi de 3,30%, muito abaixo da meta de inflação para este ano de 4%.
As vendas do varejo vieram melhores do que boa parte do mercado esperava, mas por se referirem a fevereiro, são vistas como retrovisor e não chegaram a fazer preço.
Risco fiscal no radar. No Congresso, a Câmara adiou a votação do plano alternativo de socorro aos Estados durante a pandemia do novo coronavírus. Além de suspender o pagamento de parcelas de dívidas com a União e bancos, o projeto permite aos governadores tomar crédito novo no limite de até 8% de suas receitas. Esse é um dos pontos mais polêmicos entre deputados e equipe econômica por causa do impacto fiscal.
O dólar fechou no menor nível desde 26 de março, acumulando retração de 4% na semana e terminando em R$ 5,0942. A queda foi influenciada pela disposição demonstrada pelo presidente do Bacen de também injetar liquidez por meio de programas de compra de ativos e de que pode atuar muito mais forte a qualquer momento contra a desvalorização do câmbio, e pela decisão extraordinária e inesperada do Fed de disponibilizar mais US$ 2,3 trilhões para financiar famílias, empresas e governos locais. O apoio à atividade via injeção de liquidez derrubou o dólar de forma generalizada.
Os novos pedidos de auxílio-desemprego nos EUA caíram 261 mil na semana encerrada em 4 de abril, para 6,61 milhões, evidenciando que a pandemia de coronavírus continua tendo forte impacto na economia americana. O total ficou bem acima da expectativa de 5 milhões de solicitações. Já o recorde da semana anterior foi revisado para cima, de 6,648 milhões para 6,867 milhões de pedidos. O índice de preços ao produtor (PPI) dos EUA caiu menos do que o esperado. O pré-candidato democrata Bernie Sanders anunciou a desistência da disputa presidencial americana.
Continuaram as movimentações globais para apoiar a economia. O Eurogrupo chegou a um acordo por uma resposta conjunta para a crise econômica, segundo o ministro das Finanças da França, com um pacote de meio trilhão de euros.
Semana de 13 a 17 de abril
O noticiário sobre o coronavírus permanecerá concentrando as atenções do mercado que, no âmbito doméstico, estarão também sobre o Congresso. Na semana que vem, a Câmara deve votar na segunda-feira o projeto de socorro aos Estados. No mesmo dia, está agendada no Senado a votação da PEC apelidada de Orçamento de Guerra, que libera o Executivo de amarras fiscais no combate aos efeitos da pandemia.
Internamente a agenda de indicadores é mais fraca. Na terça-feira (14) o Bacen divulga o IBC-Br de fevereiro, que deve ser relevado por tratar-se do período pré-pandemia no Brasil.
No exterior, o destaque são dados da economia da China referentes a março, como produção industrial e vendas do varejo, e ainda o PIB do primeiro tri. A expectativa é de números muito fracos neste intervalo em que o país asiático esteve praticamente parado em função do surto. Nos EUA, na quarta-feira haverá divulgação do Livro Bege do Fed, sumário das condições econômicas nas diferentes distritais da instituição.
Fonte: Broadcast