Os juros futuros encerraram a semana com mais uma rodada de deterioração da percepção de risco em relação ao Brasil. O mercado colocou nos preços o cenário fiscal incerto e a forte pressão sobre a dívida pública, com encurtamento de prazos e aumento de custos para mais de R$ 640 bilhões que o Tesouro precisa rolar no primeiro semestre de 2021, mais que o dobro da média registrada dos últimos cinco anos.
A ação conjunta do Tesouro e Banco Central com mudanças nas operações compromissadas e venda de títulos públicos, ofertando LFTs de prazo mais curto, não foi suficiente para diminuir a pressão para abertura da curva de juros. Contribuiu também para o movimento, a aversão a risco no exterior, com retomada de restrições em países europeus por causa da covid-19 e impasse em torno de um pacote fiscal nos EUA.
A agenda trouxe mais um índice de inflação acima das estimativas. O IGP-10 de outubro subiu 3,20%, quando o teto das previsões era de 3,02%. Diversas casas têm revisado para cima as estimativas para o IPCA em 2020, mas ainda assim têm ficado aquém da meta de 4%, o que por ora sustenta o forward guidance do Banco Central, de que os juros seguirão por muito tempo em níveis estimulativos, ao menos enquanto não houver mudança na orientação da política fiscal.
O dólar fechou a semana em R$ 5,6450, com valorização de 2,12%. No ano, a moeda americana sobe 40,7%. Preocupações com a situação fiscal do Brasil, em meio às crescentes dúvidas sobre o respeito ao teto de gastos em 2021, e ainda, a discussão sobre o elevado montante de vencimento da dívida pública no começo do próximo ano voltaram a pesar e a impedir melhora do real. A ameaça da segunda onda da covid-19 na Europa e a volta de medidas restritivas resgatando alertas em relação à atividade econômica, a incerteza sobre um acordo pós-Brexit no radar, além da crescente visão de que o pacote de estímulo americano ficou mesmo para depois das eleições, também ajudaram a pressionar o dólar para cima.
Semana de 19 a 23 de outubro
No Brasil, o destaque da agenda de indicadores é o IPCA-15 de outubro, que sai na sexta-feira (23).
No exterior, seguem no foco as negociações em torno de um possível acordo comercial para o período pós-Brexit para entrar em vigor a partir de 2021. Do mesmo modo, as conversas entre republicanos e democratas nos EUA sobre o pacote fiscal permanecerão no radar.
Na agenda externa, está prevista uma bateria de dados econômicos da China, entre eles o do PIB do terceiro tri. Ainda, serão divulgadas prévias dos Índices de Gerentes de Compra (PMIs) de vários países.