A inflação medida pelo IPCA-15 dobrou de setembro para outubro, passando de 0,45% para 0,94%, acima do teto das estimativas (0,93%) e com uma abertura considerada ruim, com aceleração dos núcleos e difusão maior. Foi a maior variação positiva para outubro desde 1995 (1,34%), acumulando um aumento de 2,31% no ano e 3,52% em 12 meses.
Não bastassem as persistentes preocupações com o risco fiscal elevado, a cautela com a inflação parece ter entrado de vez no radar do mercado, adicionou mais prêmios na curva de juros e passou a gerar expectativas de ajustes no forward guidance do BC no comunicado do Copom, que até então indicava manutenção da taxa em níveis estimulativos por um bom período, a menos que as expectativas de inflação, assim como as projeções de inflação de seu cenário básico, estejam suficientemente próximas da meta de inflação para o horizonte relevante de política monetária, que atualmente inclui o ano-calendário de 2021 e, em grau menor, o de 2022″.
As apostas majoritárias para o Copom na quarta-feira (28) seguiram inalteradas na manutenção da Selic em 2%, mas houve forte correção na precificação da taxa básica na curva de juros para aperto monetário em 2021, que é para onde está voltada a política monetária.
Na semana houve algum alívio nos prêmios de risco na curva, que foram passageiros, após mudanças de estratégia nos leilões e confirmação do Tesouro da possibilidade de transferências de recursos do BNDES, Banco Central e Caixa no começo de 2021 para reforçar o colchão de liquidez para rolagem da dívida.
O dólar terminou a semana cotado a R$ 5,6295, acumulando leve queda de 0,25%, após subir 2% na anterior. Em outubro, acumula alta de 0,20%. Foi uma semana de fortes oscilações, refletindo a situação fiscal doméstica, o impasse nas negociações sobre o pacote de estímulos nos EUA, o desconforto com a disparada do IPCA-15 de outubro que superou as expectativas, e números da balança de transações correntes abaixo do esperado, entre eles o investimento externo direto no Brasil.
Semana de 26 a 30 de outubro
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central é o principal destaque da agenda doméstica. É unânime a aposta na manutenção da taxa Selic nos atuais 2%.
Entre os indicadores, são esperados o saldo do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de setembro, desemprego na Pnad Contínua de setembro e o IGP-M de outubro. Por fim, dado o agravamento da situação fiscal, há expectativa também para a divulgação pelo Tesouro do Relatório Mensal da Dívida Pública e das contas do Governo Central, na terça (27) e na quinta (29).
No exterior, a semana também é de decisões de política monetária. O Banco Central Europeu (BCE) se reúne na quinta-feira (29), assim como também o Banco do Japão (BoJ). A agenda de dados econômicos tem como destaques o resultado do PIB do terceiro tri, em leitura preliminar, nos EUA e na zona do euro. No pano de fundo, seguem o noticiário em torno da eleição presidencial e as negociações do pacote de estímulo trilionário nos EUA e, na Europa, os desdobramentos em torno da segunda onda de Covid-19 que atinge o continente.