Agosto terminou muito diferente da forma como começou. Logo no início do mês, as bolsas reagiram negativamente – e no mundo todo – ao relatório de emprego americano (payroll) de julho. No Japão, o índice Nikkei chegou a despencar 12,4% em reação à interpretação, depois desfeita, de que o payroll sinalizava que os Estados Unidos estavam em recessão. No fim do mês, o resultado é totalmente outro. A Bolsa brasileira subiu, acumulando alta de mais de 6,50% no período, e o índice americano S&P500 teve ganho acumulado de 2,28%.
A diferença de humor encontra justificativa nas duas palavras em inglês que os banqueiros centrais – o brasileiro, incluído – mais se apoiam: data dependent. Ou seja, os agentes de mercado estão suscetíveis aos dados econômicos, especialmente aqueles que não cumpram as projeções medianas. Foi o que aconteceu com o payroll, que veio mais fraco do que se esperava.
Ainda sobre Bolsa brasileira, um destaque é que a alta de 6,54% do Ibovespa fez de agosto o mês com o melhor desempenho de 30 dias desde novembro de 2023, então em alta de 12,54%.
No mercado cambial, o mês foi de altos e baixos. Na primeira semana, a divisa dos Estados Unidos avançou com tudo sobre o real – chegou a R$ 5,86 na máxima intraday quando fechou a R$ 5,74 na segunda-feira, 5. Exatamente duas semanas depois, marcava mínima intraday a R$ 5,37 e fechava a R$ 5,41 no dia 19.
No último pregão do mês e dia de fechamento de taxa Ptax (referência para contratos comerciais), o câmbio refletiu a tensão dos últimos dias e fechou em nova alta. O avanço só foi moderado por causa das duas intervenções do Banco Central (BC), com leilão de venda de moeda à vista logo cedo e de swaps cambiais no começo da tarde.
Segundo operadores, parte do escorregão do real foi atribuída ao aumento da percepção de risco doméstico. Agentes do mercado relatam cautela em meio à apresentação do projeto de lei de diretrizes orçamentária(PLDO) de 2025. Além disso, há dúvidas sobre o impacto de programas do governo, como o aumento do auxílio gás, nas contas públicas e, por tabela, no cumprimento do arcabouço fiscal. O déficit do setor público consolidado em julho acima do esperado, divulgado hoje de manhã, ajudou a azedar o humor do mercado.
Pesou também contra o real a perspectiva de uma alta mais moderada da taxa Selic do que a esperada por boa parte de investidores e economistas. Após a cacofonia das últimas semanas, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, deu um recado claro hoje em evento da XP, ao dizer que “se e quando houver um ciclo de alta de juros, será gradual”.
A mensagem de Campos Neto não foi suficiente para apagar a precificação de um aumento de 0,50 ponto porcentual da taxa básica de juros, a Selic. Também não reverteu o avanço dos juros futuros no mês. O contrato mais curto, o DI para janeiro de 2025, acumulou um avanço de quase 30 pontos-base. O mais longo, de 20 pontos-base.