Os vetores que estimularam a alternância dos sinais de alta e baixa nas taxas de juros durante a semana foram:
- o recuo dos rendimentos dos Treasuries espelhando a inflação mais fraca nos EUA, a revisão em baixa do PIB americano no 1° tri e o temor de recessão no mundo, com as taxas das T-notes de 2 e 10 anos voltando a ficar abaixo dos 3%,
- a atividade econômica global perdeu força atestada pelas divulgações dos índices de gerentes de compras (PMI) fracos do setor industrial de diversos países, em meio à inflação persistentemente alta e ante a expectativa de aperto monetário,
- a expectativa de crescimento global menor e as dificuldades no processo desinflacionário alterando as apostas de um número maior de altas da taxa Selic, para manutenção em patamar elevado por mais tempo,
- a piora na percepção de risco fiscal com a PEC dos Combustíveis aprovada pelo Senado elevando o gasto extra teto a R$ 41,25 bilhões, dada a ampliação de uma série de benefícios sociais além dos anteriormente anunciados, bem como do risco inflacionário gerado via transferência de renda podendo jogar contra o plano de voo do Banco Central em relação ao fim do ciclo de aperto da Selic,
- a inflação medida pelo PCE, índice de preços preferido pelo Fed, veio abaixo do esperado. O núcleo do indicador avançou 0,3% em maio, ante consenso de alta de 0,4%. Em termos anualizados, a taxa caiu de 4,9% para 4,7%,
- o IGP-M acelerou a 0,59% em junho, após alta de 0,52% em maio, abaixo da mediana de avanço de 0,70%, mas com composição ruim. O IPC saltou a 0,71%, de 0,35% em maio, e o INCC-M, pressionado por mão de obra (4,79%), subiu de 1,49% para 2,81%,
- e os números mais fortes do Caged de maio e a melhora do índice de confiança da indústria e do comércio em junho. O quadro para atividade é visto como um fator adicional às pressões inflacionárias e reforça a percepção de alongamento do ciclo de alta da Selic. Com geração líquida de 277.018 vagas em maio, o saldo ficou muito acima da mediana das estimativas (182.250).
Fatores que foram considerados de menor potencial para influenciar o movimento da curva de juros:
- a PNAD Contínua mostrou queda na taxa de desemprego para 9,8% no trimestre até maio, maior que a apontada pelo consenso de mercado (10,2%) e no menor patamar para o período desde 2015,
- a mobilização em vários estados para atender a lei sancionada no último dia 23 por Bolsonaro, que estabelece teto de 17% a 18% na cobrança do tributo para itens como diesel, gasolina, energia elétrica, telecomunicações e transporte coletivo, com o mercado avaliando que o alívio na inflação será devolvido em 2023,
- e o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), que veio relativamente dentro do esperado, onde o principal já havia sido antecipado na semana anterior pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e pelo diretor de Política Econômica, Diogo Guillen. No RTI, o BC afirma que a taxa de juros real atinge 5,4% no fim 2023 e 4,4% no fim de 2024, acima da neutra de 4%.
A conferir o que estará no radar do mercado
- a divulgação da ata da reunião de junho do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) e o relatório de emprego norte-americano de junho (payroll), que podem ajustar as estimativas para a sequência do aperto monetário do Fed,
- o IPCA de junho, que deve mostrar aceleração ante a inflação de 0,47% apurada pelo índice em maio,
- e a votação da PEC dos Benefícios, que pode ter novas benesses incluídas na Câmara, onde tramita a PEC dos biocombustíveis.
O dólar no mercado à vista fechou a sexta-feira (1º) cotado a R$ 5,3212, encerrando a semana com valorização de 1,30%. As perdas no ano, que já chegaram a superar 17%, estão agora abaixo de 5%.
Os fatores que influenciaram os preços da moeda americana foram:
- os dados ruins de atividade e inflação na zona do euro: o PMI industrial caiu a 52,1 em junho, menor patamar em 22 meses, e o CPI atingiu a máxima histórica de 8,6% em junho, superando o recorde de 8,1% de maio,
- a leitura fraca do PMI dos EUA medido pelo ISM de Chicago: queda de 56,1 em maio para 53 em junho, abaixo do previsto (54,3). O indicador se aproxima cada vez mais da linha de 50, que separa expansão de retração,
- a ampliação dos gastos (o “auxílio-taxista” de R$ 200 por mês, com custo de R$ 2 bilhões, e a adição de R$ 500 milhões para o programa Alimenta Brasil) na PEC dos Combustíveis, além do que já estava previsto (o aumento do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600, a ampliação do vale gás e o voucher a caminhoneiros de R$ 1 mil mensais) pelo mercado, elevando o custo do pacote de R$ 38,75 bilhões para R$ 41,25 bilhões, fora do teto de gastos (a regra que limita o crescimento das despesas do governo à inflação do ano anterior),
- a falta de clareza sobre até onde vão as medidas sociais e a incerteza sobre a possibilidade de prorrogação de benefícios para além de 2022,
- e a busca por segurança devido à hipótese de recessão global potencializando a onda mundial de busca pelo dólar.
Agenda de eventos e indicadores econômicos de 04 a 08 de julho
Segunda-feira (4): mercados em Wall Street fechados em função do feriado de celebração da Independência dos EUA, a Pesquisa Industrial Mensal (PIM) de maio,
Terça-feira (5): a produção industrial de maio, os PMIs da Alemanha, zona do euro e Reino Unido,
Quarta-feira (6): a divulgação da ata da reunião de junho do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), o PMI dos EUA,
Quinta-feira (7): o IGP-DI, a ata da última reunião de política monetária do Banco Central Europeu (BCE),
Sexta-feira (8): o relatório de emprego norte-americano (payroll) de junho, o IPCA de junho,