Análise do Mercado de Renda Fixa e Tesouro Direto: Semana 241

→ Principais Notícias para o Mercado de Renda Fixa e Tesouro Direto.

Highlights (Resumo): Alta nas Taxas de Juros.

Principal(is) vetor(es): mercado levou em conta os crescentes temores de ingerência política no Banco Central.

Destaque(s): Risco Político

Contribuição: José Luis Gomes Lisboa CFP® Linkedin

No Boletim Focus (6), o mercado interrompeu a piora das expectativas inflacionárias. A projeção para o IPCA deste ano seguiu em 5,90% após 11 altas consecutivas, bem acima do teto da meta (4,75%). Um mês antes, a mediana era de 5,78%. Para 2024, horizonte cada vez mais relevante para a estratégia de convergência à inflação do BC, a projeção continuou em 4,02% pela segunda semana seguida, de 3,93% há quatro semanas, acima do centro da meta (3,00%), mas ainda dentro do intervalo que vai de 1,50% a 4,50%.

A semana na Renda Fixa foi de aumento da inclinação da curva de juros, considerando a abertura de forma mais acentuada na ponta longa, que melhor traduz a percepção de risco político, fiscal e externo. O spread entre os contratos para janeiro de 2029 e janeiro de 2025 passou de 63 pontos na sexta-feira anterior (24), para 72 pontos. O mercado levou em conta os crescentes temores de ingerência política no Banco Central.

Os principais vetores que influenciaram a trajetória da curva de juros foram:

  • o desconforto com ruídos políticos envolvendo a pressão que o governo voltou a fazer para que o Banco Central (BC) reduza os juros,
  • as promessas do presidente Lula de aumentar os investimentos, inclusive por meio dos bancos públicos para estimular a atividade, amplificando o temor fiscal,
  • as incertezas em relação às medidas fiscais expansionistas, após movimento coordenado no governo em criticar o patamar da Selic a 13,75% ao ano, com a contração do PIB no quarto trimestre,
  • a incerteza envolvendo a Petrobras amparada nas declarações do seu presidente, Jean Paul Prates, que defendeu uma alteração na política de Paridade de Preços de Importação (PPI),
  • o arranjo para recompor receitas de antes da desoneração foi mal recebido, bem como a taxação de exportações de óleo cru, a princípio válida por quatro meses, uma vez que pode afetar as receitas da Petrobras. Também causou desconforto a possibilidade, já dada como certa no mercado, da revisão da política de dividendos da companhia,
  • a oferta atipicamente elevada no leilão de NTN-B do Tesouro vendida integralmente,
  • o receio de que os grandes bancos centrais estendam o aumento de juros e mantenham as taxas elevadas por mais tempo, sobretudo após dados mostrarem resiliência da atividade,
  • a ata do Banco Central Europeu (BCE) mostrando que a instituição está disposta a continuar subindo juros além da reunião de março, após a inflação ainda alta na zona do euro. A expectativa de um BCE hawkish puxou o retorno do bund de 10 anos da Alemanha a máximas desde 2011,
  • e as declarações consideradas hawkish de dirigentes do Fed sugerindo uma política contracionista por tempo maior. A inversão da curva americana vem se intensificando, com diferencial em torno de 90 pontos entre os vértices de dois e dez anos.

Fizeram o contraponto mas não impediram o fechamento da curva de juros:

  • o índice de gerentes de compras (PMI) de serviços do Brasil caindo de 50,7 pontos em janeiro para 49,8 pontos em fevereiro, segundo a S&P Global, a primeira queda do setor em 21 meses. Quando abaixo de 50 pontos, o PMI mostra contração da atividade em relação ao mês anterior,
  • o PIB brasileiro caindo 0,2% no quarto tri de 2022 ante o terceiro tri de 2022, abaixo da mediana (-0,1%) das estimativas. Na comparação com o quarto tri de 2021, o PIB apresentou alta de 1,9%, vindo também abaixo da mediana (2,1%). No fechamento de 2022, o PIB cresceu 2,9% ante 2021, resultado pior que a mediana de 3% das previsões, que se estendiam de uma alta de 2,7% a 3,1%,
  • a reoneração dos combustíveis, que embora tenha potencial para pressionar a inflação, é vista como uma boa notícia do ponto de vista fiscal. Além disso, a decisão é considerada uma vitória da equipe econômica ante as pressões do PT para que a desoneração fosse renovada,
  • a deflação de 0,06% do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) em fevereiro, após elevação de 0,21% em janeiro, ficando abaixo da mediana das projeções (+0,05%),
  • outra boa notícia da área fiscal veio do resultado do Governo Central de janeiro, que registrou um superávit de R$ 78,326 bilhões, acima da mediana das estimativas, de R$ 77,6 bilhões,
  • e as informações de uma expansão mais forte do setor de serviços ao fim da política de covid-zero na China, e aceno do BC chinês com corte da taxa de compulsório mais adiante para estimular a economia.

Fatores que foram considerados de menor potencial para influenciar o movimento da curva de juros:

  • o anúncio da redução nos preços da gasolina e do diesel, dada a cautela sobre o arranjo desdenhado para a volta da tributação de maneira a não pressionar inflação e manter a arrecadação de R$ 28,9 bilhões,
  • o relatório mensal da dívida, trazendo que a reserva ao fim de janeiro caiu a R$ 953,39 bilhões, ante R$ 1,175 trilhão no fim de dezembro,
  • os dados do setor público consolidado (Governo Central, Estados, municípios e estatais, com exceção de Petrobras e Eletrobras) e da Pnad Contínua. Após o déficit primário de R$ 11,813 bilhões registrado em dezembro, as contas consolidadas do País tiveram superávit de R$ 99,013 bilhões em janeiro, o segundo maior resultado para o mês da série histórica iniciada em dezembro de 2001, ficando perto do teto das projeções, de R$ 101,000 bilhões,
  • a taxa de desocupação no Brasil em 7,9% no trimestre encerrado em dezembro, de acordo com os dados mensais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), dentro das expectativas, que eram uma taxa de desemprego entre 7,7% e 8,1%, e em linha com a mediana de 7,9%,
  • e o Boletim Focus (6) mostrando uma moderação no ritmo de avanço das projeções de inflação para 2023 e 2025, além de estabilidade para 2024.

A conferir o que estará no radar do mercado

  • Brasil:

a evolução dos debates em torno da reforma tributária e do novo arcabouço fiscal, que o governo quer apresentar antes da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) no dia 22,

a indicação para a diretoria de política monetária do Banco Central,

e o IPCA de fevereiro na sexta-feira (11).

  • EUA:

a divulgação do relatório de emprego nos EUA, o payroll, referente a fevereiro na sexta-feira (10). O mercado de trabalho aquecido, com taxas de desemprego nas mínimas e pressão de alta dos salários, tem sido apontado como um dos principais fatores a limitar a eficácia da política monetária do Fed contra a inflação,

e os comentários do presidente do Fed, Jerome Powell, no Congresso, onde apresentará o relatório de política monetária amanhã no Senado (7) e depois de amanhã (8) na Câmara.

O dólar no mercado à vista encerrou a sessão da sexta-feira (3) cotado a R$ 5,2002, terminando a semana praticamente estável (+0,03%).

Os principais fatores que influenciaram o preço da moeda americana no mercado doméstico de câmbio foram:

  • os indicadores de atividade mais fortes do que o previsto nos EUA e também na China, sugerindo que as pressões inflacionárias não serão revertidas facilmente,
  • o otimismo com a economia chinesa, o que favorece divisas mais arriscadas e de exportadores de commodities, como é o caso da brasileira,
  • a perspectiva de preços de commodities mais elevados, dada à sequência de indicadores positivos da economia chinesa, que ganha fôlego com a reabertura após o fim da política de covid zero,
  • a ata do Banco Central Europeu (BCE) mostrando que a instituição está disposta a continuar subindo juros além da reunião de março,
  • a cautela em torno dos desdobramentos das críticas do presidente Lula ao Banco Central, reforçadas após a divulgação do PIB do quarto tri,
  • os temores de interferência política na gestão da política monetária,
  • as incertezas em relação às medidas fiscais expansionistas do governo,
  • a queda do PMI de serviços do Brasil abaixo de 50, linha que separa cenários de expansão do de contração, pela 1ª vez em 21 meses,
  • e o movimento coordenado no governo em criticar o patamar da Selic a 13,75% ao ano, cobrando resposta do presidente do Banco Central, após a divulgação da contração do PIB no 4º tri.

Agenda de eventos e indicadores econômicos de 06 a 10 de março

Segunda-feira (6):

  • Brasil: Boletim Focus, Anfavea: Produção e venda de veículos em fevereiro,
  • EUA: Deptº do Comércio: Encomendas à indústria de janeiro,
  • Zona do euro: Eurostat: vendas no varejo em janeiro,  

Terça-feira (7):

  • Brasil: FGV: IGP-DI de fevereiro, FGV: Indicador Antecedente de Emprego de fevereiro,
  • EUA: Presidente do Fed, Jerome Powell, apresenta relatório de política monetária ao Comitê Bancário do Senado dos EUA, Deptº do Comércio: Estoques no Atacado em janeiro, Fed: Crédito ao Consumidor de janeiro, API: estoques de petróleo na semana até 03 de março, Estoques de gasolina, Estoques de destilado,
  • Alemanha: Destatis: encomendas à indústria em janeiro,
  • China: Stats: Balança comercial de janeiro e fevereiro,

Quarta-feira (8):

  • Brasil: FGV: IPC-S (semanal), CNI: Sondagem Industrial de janeiro, BC: Fluxo cambial (semanal),
  • EUA: ADP: relatório sobre criação de empregos no setor privado em fevereiro, Deptº do Comércio: balança comercial de janeiro, Presidente do Fed, Jerome Powell, apresenta relatório de política monetária ao Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos EUA, Deptº do Trabalho: Relatório sobre empregos (Jolts) de janeiro, DoE: Estoques de petróleo na semana até 03 de março, Estoques de gasolina, Estoques de destilados, Taxa de utilização das refinarias, Fed divulga o Livro Bege,
  • Zona do euro: Dirigente do BCE, Fábio Panetta discursa no Conselho de Resiliência do Euro para Infraestruturas Financeiras Pan-Europeias, Eurostat: PIB do 4° tri (3° estimativa),
  • Reino Unido: Membro do Comitê de Política Monetária do BoE, Swati Dhingra participa de evento na Fundação Resolution, Membro do Comitê de Política Monetária do BoE, Silvana Tenreyro participa de evento virtual da Confederação da Indústria Britânica,
  • Alemanha: Destatis: Produção industrial de janeiro, Destatis: vendas no varejo de janeiro,
  • China: NBS: CPI de fevereiro, NBS: PPI de fevereiro,

Quinta-feira (9):

  • Brasil: FIPE: IPC (semanal), FGV: IGP-M (1ª prévia) de março, Conab: 6º Levantamento da safra de grãos 2022/2023 em março, Caged: Geração de emprego formal em janeiro,
  • EUA: Deptº do Trabalho: pedidos de auxílio-desemprego na semana até 04 de março, Vice-presidente de supervisão do Fed, Michael Barr, discursa sobre criptomoedas em evento no Instituto Peterson, o Presidente dos EUA, Joe Biden, anuncia orçamento para 2024,

Sexta-feira (10):

  • Brasil: IBGE: IPCA de feverieo, CNI: Índice de Confiança do Empresário Industrial – ICEI,
  • EUA: Dept°. do Trabalho: relatório mensal de empregos (payroll) de fevereiro, Taxa de desemprego, Salário médio por hora, Secretária do Tesouro, Janet Yellen testemunha na Câmara dos EUA, Baker Hughes: poços de petróleo em operação,
  • Reino Unido: ONS: produção industrial de janeiro,
  • Alemanha: Destatis: CPI de fevereiro (final), o Dirigente do BCE, Fábio Panetta, faz apresentação sobre euro digital na Federação dos Bancos Europeus, em Frankfurt, a Presidente do BCE, Christine Lagarde, visita chanceler alemão, Olaf Scholz, em Berlim,
  • Japão: BoJ divulga decisão de política monetária.

Fonte: Broadcast

Contribuição: José Luis Gomes Lisboa CFP® Linkedin

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